E também alguns mini contos prodigiosos

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O ratinho

Havia um ratinho, lá muito longe de mim e dos meus, tão longe, tão longe, tão longe, que acabava por estar demasiado perto para meu gosto, que tinha um vicio semi-oculto de si, que era recolectar e juntar tudo e mais alguma coisa que lhe aprouve-se e que desfasada de qualquer tipo de significado, utilidade ou mesmo simbolismo oculto, absolutamente não lhe servia para nada! Mas o vicio era mais forte que o seu espírito de ratinho e assim não se conseguia afastar dessas tarefas semi-organizadas e instintivas que de tão instintivas se tornavam subconscientes e até mesmo prementes e de tão prementes, na minha modesta opinião, se tornavam, em certa medida, até mesmo dementes – mas isso provavelmente são outras histórias e análises que não são para aqui chamadas. Eu pelo menos não as chamei, se elas vieram foi porque quiseram. E com isto não digo mais nada.

Eu disse que não dizia mais nada acerca das outras histórias, que não foram chamadas à conversa, bem entendido! Sobre esta história ainda vou dizer mais qualquer coisita. Pelo menos o que me aprouver na quantidade que me aprouver e quando me aprouver e eu bem entender, que ninguém tem nada a ver com isso! É só entre mim, a história, o ratinho provavelmente, e só se lhe apetecer, e mais alguns convivas que queiram aparecer. Não muitos! Só os suficientes! Que se são muitos possivelmente ainda se me acaba a vitualha e torna-se uma chatice. E por falar em chatice e depois também é sempre uma chatice ter que arrumar as coisas quando a festa acaba e o pessoal se vai embora.

Ora vamos lá ver do que é que estava eu a falar?! De um homenzinho… de azevinho… de um menino… era qualquer coisa em ino ou inho… está na ponta da língua… Ah já me lembro! Era do ratinho e das suas pancadas por querer ter tudo o que mexe, não mexe ou está assim assim pouco mais ou menos na duvida se se mexe ou não mexe. Mas mais uma vez essa duvida não é do ratinho por isso também não é para aqui chamada. De vez em quando tenho esta tendência para me perder nas ideias não sei bem porquê! Mas muito provavelmente é porque ideias não me faltam ou então não tenho organização ou método ou seja o que for para me poder concentrar num raciocínio por si mesmo sem me preocupar com outra coisa qualquer. Eu bem tento fazer uma coisa de cada vez, sempre ouvi dizer que era o melhor, mas dou por mim a fazer várias coisas ao mesmo tempo e depois umas ficam pelo caminho e outras pelo caminho ficam e as que acabo encaminharam-se de tal forma que parecia que não as estava a fazer. E com isto continuo sem falar do que quero e consegui mudar três vezes de assunto e nenhum deles acabei. Possas pá! Vou mas é acabar o parágrafo para ver se pelo menos acabo alguma coisa. Bom bom era acabar com o não acabar!

Não sei se depois desta complicação toda o ratinho ainda tem vontade que eu fale dele! È capaz de achar que não sou a pessoa mais indicada! Que sou por assim dizer um pouco confuso! Mas agora pus na cabeça que hei de falar do ratinho e vou falar do ratinho! Que eu sou teimoso! Que também quando ponho uma coisa na cabeça ela fica lá! Ai se fica! A não ser que entretanto saia. E como saiu já não ficou! Pronto! Já lá vou eu andando por caminhos e ruelas que não são os do ratinho nem os meus! Pareço um turista pá! Sempre a andar de um lado para o outro e com a cabeça a olhar para a lua! Se for de noite claro! E se não estiver nuvens! E se o enquadramento o permitir! Hum é melhor dizer que pareço um turista sempre com a cabeça no ar e pronto! Retomando então à terra! Decidi que no próximo parágrafo vou falar do ratinho dê por onde der e não vou falar de mais coisa nenhuma. Neste parágrafo já não vale a pena! Já está quase no fim! E se o ratinho não quiser o problema é dele que estamos num país democrático e eu falo sobre o que me apetecer e bem (ou mal) entender! Mesmo que não seja ouvido! Ele que me processe se não gostar da conversa, ou eu abusar de mau feitio, ou mesmo se disser alguma verdade que lhe seja inconveniente!

O ratinho! O ratinho? O ratinho. O ratinho? O ratinho! O ratinho!? O ratinho… O ratinho! O ratinho. O ratinho! O ratinho!? O ratinho. O ratinho!.. O ratinho? O ratinho! O ratinho! O ratinho! O ratinho! O ratinho!... O ratinho! O ratinho? O ratinho! O ratinho. O ratinho… O ratinho? O ratinho: O ratinho; O ratinho; O ratinho. O ratinho! O ratinho? O ratinho… O ratinho,… O ratinho! O ratinho???! O ratinho… O ratinho? O ratinho…. O ratinho! O ratinho! O ratinho! O ratinho! O ratinho! O ratinho.

Bem! Agora que já cumpri a minha promessa e levei um paragrafo todo a falar só do ratinho vamos lá então falar do ratinho! Eh Eh estava a brincar! Mas como sou teimoso e fiz a promessa de só falar do ratinho e tenho tendência para me perder pelo caminho e não acabar o raciocínio, esta foi a única forma que encontrei de falar só sobre o ratinho. Se bem que bem vistas as coisas acabei por não falar só sobre o ratinho! Estava muito mais subentendido para alem do ratinho. Reparem na minha inteligência! O Ponto de exclamação! A forma como coloquei o ponto de exclamação! Todo o significado e intensidade que dei à palavra “ratinho”! E para alem disso para mostrar ainda mais que sou inteligente por vezes enveredava pela filosofia! A questão! O questionamento! Será que o ratinho é o ratinho? E depois a conclusão ainda mais inteligente e enfática a que chegava: sim é o ratinho! Cheguei mesmo por vezes a ser conclusivo-dogmático impondo logo ali a minha respeitável opinião e não criando condições para que sequer duvidassem de tão grande, eloquente e elegante sapiência. Mas como ainda sou mais inteligente do que isso, por vezes ainda deixava no ar a hipótese reticente de o ratinho não ser o ratinho. É que isto de escrever sobre o ratinho tem muito que se lhe diga. E como ele anda um pouco chateado comigo – como disse ele começa a duvidar da minha capacidade para falar sobre ele - nada melhor do que me mostra arguto filosófico-cientifico-poeticamente (e sabe-se lá mais o quê) para que ele me respeite enquanto individuo com altas capacidades para falar dele. Dele o ratinho bem entendido!

A verdade é que já não sei se me apetece falar sobre o ratinho! Logo eu que até tenho um certo jeito para a poesia e era capaz de até lhe fazer um poema… Um soneto talvez! Daqueles todos xpto! (Pssss: tou-me a fazer de difícil que já ouvi dizer que o ratinho afinal sempre quer que eu fale sobre ele. Que é para ele ver com quem é que se meteu! Não quereria que eu falasse sobre ele! Onde é que isto já se viu! Logo eu que sou um dos maiores faladores de ratinhos - como foi visto no penúltimo parágrafo e com a subsequente explicação de toda a teoria enformadora de tão magnificente e excelsa conversação! Duvido até que haja alguém que fale tão bem e eloquentemente de ratinhos como eu! Podem saber mais de ratinhos! Isso não duvido! Aqueles senhores e senhoras que fazem aquelas experiencias malucas e que são das biologias e coisas do género! Ah e aquele russo o qualquer coisa ov.. Sim esses sabem definitivamente mais de ratinhos do que eu! Mas eu! Eu minhas senhoras e meus senhores eu tenho o je ne sais quoi que eles não têm! Tenho dentro de mim a alma de um verdadeiro ratinho! Daqueles que andam todos contentes pelos campos a saltitar de poiso em poiso a fugir dos gatinhos e coisas afins! Mas isso como veremos adiante – se me apetecer – será obvio! Portanto, e posto isto, quem melhor do que eu para falar do meu amigo ratinho! Sim porque se me revejo nele e já há uma certa proximidade então posso com certeza lhe chamar amigo! Mesmo que ele se esteja marimbando para mim e para o que eu ache dele! Suponho que o que lhe interessa mesmo é a publicidade! A ver vamos se não lhe sai o tiro pela culatra!).

Eh pá já começo a ficar farto disto e desta confusão toda à volta de uma coisa simples! Mania de complicar pá! Vamos lá directos ao assunto. Primeiro ponto: O que já falei eu sobre o ratinho? Resposta: a) de tão longe estava demasiado perto!; b) tinha ou tem um problema com o querer tudo (mesmo o que não lhe faz falta); c) preocupa-se em demasia com o que as pessoas pensam dele (por isso é que andava na incerteza se eu era o individuo mais apropriado para lhe descrever as ratonices e se calhar também por isso é que quer tudo e mais alguma coisa). Segundo ponto: O que me falta escrever sobre o ratinho? Resposta: Não sei! Ah é verdade! Antes que me esqueça. Já me lembro do nome do russo! Era o Pavlov. Acho que vou escrever um poema ambíguo – o tal soneto xpto - e acaba-se já a conversa sobre o ratinho. E quem percebeu percebeu. Quem não percebeu percebe-se.

O ratinho quer tudo o que mexe
e o que não mexe e assim assim!
Olha ratinho isso não é assim!
Já viste que te tornas agreste?

Para quê tanta coisa se não faz falta?
E o mais importante ò ratinho?
A felicidade não está nesse caminho!
Salta de poiso em poiso! Anda! Salta!

Não te prendas que não levas nada!
E se os ratinhos fossem todos iguais?
Roubavam-te e roubavas os demais?

Não te prendas que não levas nada!
Encontra lá qualquer coisa a dividir
que enriqueça todos ao se repartir.

Afinal o soneto não é todo xpto nem por aí alem ambíguo por demais (é pena eu gosto especialmente da ambiguidade para me por a pensar! È tipo o I Ching dos pensamentos - um oráculo sobre o nosso pensar baseado no nosso pensamento eh!eh!). De qualquer forma do que queria avisar o ratinho é que a beleza do diamante não está no seu valor. Alem disso não é prático ter muita coisa. Para começar é confuso e depois imaginemos que o ratinho vai todo contente a passear pelo campo e se lhe depara um gato pela frente! Caput! Pois claro! E aí já não há coisa alguma para levar! A não ser que queira ser apanhado pelo gato eheh! Outro exercício interessante é pensar que todos os ratinhos são iguais nesse sentido de querer tudo e mais alguma coisa! Felizmente que sabemos que não é assim. Mas imaginemos por instantes que era. Teríamos um conflito de interesses e andavam todos à guerra! Vamos mas é lá a ver se os ratinhos encontram qualquer coisa simples e que seja divisível por todos! Em que os que dão ficam mais ricos! Procurem a simplicidade da existência ratinhos! Vá ide-vos e procurem! Eh!Eh! Não resisti! Sinto-me, em certa medida uma mistura de padre dos ratinhos com um Pavlov! E para ti meu bom ratinho um grande bem-haja! Eh!Eh! Eu sei a parte do bem-haja parece bué foleiro. Mas então apeteceu-me! Não posso fazer nada!

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