E também alguns mini contos prodigiosos

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Fado Petrarca!

Falava com ele por sussurros deitada no soalho de madeira de um prédio pombalino de Lisboa, daqueles que ainda restam no centro histórico da cidade das sete colinas. “Uma casa verdadeiramente lisboeta” como me disseram uma vez. Aquelas que personificam o novo movimento que se respira pelos centros intelectuais e boémios da cidade. Move-se para encarnar a personalidade lusitana. Respira mas não contra! Não de extrema! Não! È antes a saudade poética de uma época não vivida. O Fado! Eusébio! O Fado! Figo! Que mais? - E se aproveitássemos esta mercearia que ainda tem os balcões e os armários do tempo dos nossos avós e que quando éramos crianças já poucas resistiam á mudança dos tempos revolucionários? - Ya! -Até podemos tentar encontrar algumas marcas que ainda existem por aí e que são de lá! -Ya! Ficava Cool!. – “Pasta dentífrica Couto” eh!eh!

Sussurrava-lhe com receio de ser descoberta nesse desejo. Mas queria-o. O que lhe fazia imaginar que do outro lado a pudessem escutar! Atemorizava-a! Mas esse temor excitante movia-a. Ditava as palavras ao ritmo das ondas dos seus medos. Uma vezes mais alto - mas e se a escutassem! Outras mais baixo – e se não me escutam! Ditava os seus sonhos de erotismo enquanto o momento se movia numa aproximação elíptica.

Toques, toques! Sinais! Confusão sim! Horas! Confusão não! Horas! Estou paranóica! Estou paranóico! Será o barulho do silêncio que me sussurra?! Será o silêncio do barulho que me grita?! E assim se ditavam, degladiando desejos, lutando por sinais, esperando a certeza, esperando a incerteza. Namoravam-se! Como se a verdade da alma fosse mais importante que o toque. Como se o prazer dos sentidos distantes estivesse presente. Tão presente que era seu e excitava! Tão presente que era seu! Apenas seu?! Unidos numa verdade!? Será o barulho do silêncio!? Não me interessa! é meu!?

Espera vou fazer um sinal! Mas eu oiço! Eu oiço! Deixa-me imaginar que as palavras são diferentes que não são aquilo que penso que são! - Vou saltar até á Lua! 1! 2! 3! Hum! Não sei! Mas eu quero que não sejam o que penso que não são! Quero que sejam o que penso que são! Quero! È tão inebriante! Tão luxuriante! Tocar-me como se me tocassem. Sentir-me como se me sentissem! Mas estou só! é diferente de estar com ela! Ela chama-me! Espera vou fazer um sinal!

Já é noite alta! Vou dormir! Sou louco! Não quero mais ouvir o que não sei se é!... Ah! Como quero que seja verdade este sonho de palavras, este meu mito excitante, só meu! … e dela tenho esperança. Não!? Não quero perder o toque das palavras! Que me tocam como poucas mulheres me tocaram! Que me subjugam e me prendem no seu hipnotismo! Não! Não quero saber! Hipnotizado sim eu estou! Mas é tão bom! Tão gloriosa esta duvida no poder imenso da sua luxúria!

Toques, toques! Sinais! Confusão Sim! Horas! Confusão não! Horas! Estou paranóico! Estou paranóica! Será o barulho do silêncio que me sussurra?! Deitavam-se no mar de encarnações irmãs! Competiam pelo tempo, pelo momento. A palavra perfeita! E combinavam o encontro! Encontravam-se por vezes nesse tempo, e ajuizavam a união! Julgavam o momento dessa perfeição! os dois tão juntos! Amantes apesar de tudo! Será o barulho do silêncio!? Não me interessa! é meu!?

Sinais! Um tossir! Não! Dois toques! Sim! Coragem! E gritava sussurrando. Chamava por seu amante! Media-lhe a grandeza do desejo! Suponha-se tocada, manifestamente tocada pelos sinais! E gritava em voz baixa. Sentia o pudor e escondia-se! - Não convém! È meu e dele! Somos nós! È meu! Dele não sei! Mas que hipnotizada me sinto pelos sinais! E canto! Chamo! Sou tágide! Gosto assim! Já é noite alta! Vou dormir! Sou louca! Não quero mais ouvir o que não sei se é!...

– Olha uma cena fixe! Tas a ver aquela padaria lá do bairro? Com a bancada em pedra!? – Sim!? – Podemos fazer uma cena com roupas e chapéus e sapatilhas e discos e… -Avant-garde! –Ya!; Saudades de algo!? Desse tempo! Já esteve mais longe! Centenas de anos mais longe! Como podemos saudar o presente? Tão presente e supracosciente! A ancora que nos apoia quando partimos. Este novo Mundo! - Somos um! Podemos sempre voltar a casa!; É o Fado! Mas falam ainda por sussurros! Encobertos e desejando…